segunda-feira, janeiro 31

ESPERANÇA



Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica, que tantas vezes verifica-se ser ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e verde: o inseto. 
Houve um grito abafado de um de meus filhos:
- Uma esperança! e na parede, bem em cima de sua cadeira! Emoção dele também que unia em uma só as duas esperanças, já tem idade para isso. Antes surpresa minha: esperança é coisa secreta e costuma pousar diretamente em mim, sem ninguém saber, e não acima de minha cabeça numa parede. Pequeno rebuliço: mas era indubitável, lá estava ela, e mais magra e verde não poderia ser.
- Ela quase não tem corpo, queixei-me.
- Ela só tem alma, explicou meu filho e, como filhos são uma surpresa para nós, descobri com surpresa que ele falava das duas esperanças.
Ela caminhava devagar sobre os fiapos das longas pernas, por entre os quadros da parede. Três vezes tentou renitente uma saída entre dois quadros, três vezes teve que retroceder caminho. Custava a aprender.
- Ela é burrinha, comentou o menino.
- Sei disso, respondi um pouco trágica.
- Está agora procurando outro caminho, olhe, coitada, como ela hesita.
- Sei, é assim mesmo.
- Parece que esperança não tem olhos, mamãe, é guiada pelas antenas.
- Sei, continuei mais infeliz ainda.
Ali ficamos, não sei quanto tempo olhando. Vigiando-a como se vigiava na Grécia ou em Roma o começo de fogo do lar para que não se apagasse.
- Ela se esqueceu de que pode voar, mamãe, e pensa que só pode andar devagar assim.
Andava mesmo devagar – estaria por acaso ferida? Ah não, senão de um modo ou de outro escorreria sangue, tem sido sempre assim comigo.
Foi então que farejando o mundo que é comível, saiu de trás de um quadro uma aranha. Não uma aranha, mas me parecia “a” aranha. Andando pela sua teia invisível, parecia transladar-se maciamente no ar. Ela queria a esperança. Mas nós também queríamos e, oh! Deus, queríamos menos que comê-la. Meu filho foi buscar a vassoura. Eu disse fracamente, confusa, sem saber se chegara infelizmente a hora certa de perder a esperança:
- É que não se mata aranha, me disseram que traz sorte…
- Mas ela vai esmigalhar a esperança! respondeu o menino com ferocidade.
- Preciso falar com a empregada para limpar atrás dos quadros – falei sentindo a frase deslocada e ouvindo o certo cansaço que havia na minha voz. Depois devaneei um pouco de como eu seria sucinta e misteriosa com a empregada: eu lhe diria apenas: você faz o favor de facilitar o caminho da esperança.
O menino, morta a aranha, fez um trocadilho, com o inseto e a nossa esperança. Meu outro filho, que estava vendo televisão, ouviu e riu de prazer. Não havia dúvida: a esperança pousara em casa, alma e corpo.
Mas como é bonito o inseto: mais pousa que vive, é um esqueletinho verde, e tem uma forma tão delicada que isso explica por que eu, que gosto de pegar nas coisas, nunca tentei pegá-la.
Uma vez, aliás, agora é que me lembro, uma esperança bem menor que esta, pousara no meu braço. Não senti nada, de tão leve que era, foi só visualmente que tomei consciência de sua presença. Encabulei com a delicadeza. Eu não mexia o braço e pensei: “e essa agora? que devo fazer?” Em verdade nada fiz. Fiquei extremamente quieta como se uma flor tivesse nascido em mim. Depois não me lembro mais o que aconteceu. E, acho que não aconteceu nada.

Clarice Lispector - UMA ESPERANÇA



 P.S.: E não é que neste fim de semana esse bichinho deu o ar da graça por aqui também?
Eu, definitivamente, não fiz como a Clarice... aprontei foi um escândalo da-queles, ouvindo aquele som estridente, vindo da minha cozinha às 3 da matina.
Se ele é um inseto de bons presságios, acho mesmo que eu estava precisando que algo ou alguém gritasse dos bons ventos, em muito alto e bom som (porque é pra ninguém botar defeito o barulhinho que esse danado faz) nos meus ouvidinhos e coração meio desatentos, meio tomados pela rotina e pelo turbilhão de afazeres.
E agora Esperancinha por onde tu andas?
Não sei...
Mas desculpa se te assustei (também)!


E vocês, têm a esperança sempre por perto?

Beijo e uma ótima semana!
 

quarta-feira, janeiro 26

SELO

Recentemente a Anng - dona de um espaço encantador, cheio de poesia e romantismo - dedicou este selo às blogueiras amigas. Eu, como sempre, adoro essa... camaradagem que rola por aqui. É muito bom!


Além disso, é possível encontrar entre muita informação relevante, diversão e originalidade nos blogs, não é?
Atenção à Baleinha Unicórnio no canto do selo. Muito fofa!

Este divido com:

Ju do Mil Faces
Chris do Inventado com a Mamãe
AC do Interioridades
Re do Citrico
Marcia do Relacionamentos, Vida e Cotidiano
Re do Balanço das Horas
Val do Dolce Algodão
Ro do Isso é Glamour?
Patys do Nutrição e
Rosi do Tressé Bien

Beijo a todos e uma excelente semana!
Beijo Anng, querida!

segunda-feira, janeiro 17

PAIS, FILHOS E DINHEIRO



Theo e Sofia já têm seus cofrinhos há algum tempo (embora pequenos. Praticamente bebês, pra mim (rs). Para os que não acompanham o blog com frequência, eles tem 4 e 6 anos, respectivamnte).
Inicialmente, os porquinhos funcionavam mais como bibelôs. Eles achavam bonitinhos e eu acabava presenteando (quebraram vários sem querer, derrubando os pobrezinhos). 
De certa forma foi bom; no mínimo familiarizou os dois com o objeto e sua função. Hoje, eles já sabem que aquilo serve para guardar moedinhas e, uma vez guardadas, depois de um certo tempo é possível comprar um brinquedo, alugar um dvd ou fazer outras coisas que tenham vontade.

É duro confessar, mas sou péssima para administrar contas e lidar com dinheiro de uma forma geral; não sei se pela falta de "tato" dos meus pais no assunto (meu pai é daqueles que deve ter feito o curso Aprendendo a Poupar, na mesma turma do Tio Patinhas, minha mãe é totalmente relax para tuuudooo, inclusive dim-dim), se pela ausência de um bom curso de Educação Financeira. Sim, às vezes sinto o caso tão grave que somente aulas - com professores mega qualificados e bem didáticos -  dariam conta do "recado".

Diante disso comecei a me preocupar. Mesmo porque, os pequenos aprendem com o exemplo dos pais (principalmente). Não adianta terem seus cofrinhos, mesada ou lições sobre  como poupar, vendo os pais gastarem exageradamente, ou fazerem seus gostos, sem critério algum.
É fácil ensiná-los sobre dinheiro? Não. É difícil, especialmente pra mim, que gosto de agradar e mimar muuuuito meus fofutchos, negar o que eles pedem. Mas é preciso estipular críterios, fazê-los entender a importância e o poder do dinheiro em suas vidas, para que amanhã possam se relacionar com ele da melhor forma e construir sua independência de forma realmente sólida.

Para tanto, presenteá-los somente em datas comemorativas, por exemplo, é boa opção.
Parei com muitos mimos foras destas datas.

Os cofrinhos também são bem legais (comprei dois modelos inquebráveis, agora). Claro que na idade dos meus, não sou rígida. Tudo funciona mesmo como forma de introduzir, principalmente a Sô, nas primeiras lições sobre  o assunto. (Interessante é que o Theo tem se revelado em sua relação com o dinheiro. Já sabe que guardando umas quinze moedas das maiores, aqueeela que vale mais, já pode comprar uns dois ou três Hot Wheels (rs). E ele poupa mesmo. Desconfio que puxou o avô; chega a esconder seu cofrinho).

Deixá-los participar das compras e das comparações de preços também pode ser interessante.
A Sofia (quando bem-humorada) adora participar disso.

A escola também exerce um papel fundamental
Vale cobrar das instituições de ensino, no mínimo um programa de apoio que não se restrinja somente à matemática, mas que mostre às crianças como orçar e poupar, por exemplo, tornando-as, lá na frente, mais críticas e capazes.
No mais, aquela história do exemplo conta mesmo. É bom que ainda crianças, eles percebam uma relação saúdavel, entre seus pais e as finanças.

E vocês amigos, lidam bem com grana?
São consumistas?
Ensinam sobre dinheiro para seus filhos? A escola que eles frequentam, ensina sobre educação financeira?

Obs.: Aos interessados, comprei os cofrinhos das crianças na Imaginarium. A loja tem opções para todos os gostos. Os modelos são super originais.


Beijo grande a todos!

terça-feira, janeiro 11

AS DRACENAS, JANIS JOPLIN, BOBBY MCGEE... E EU


Quem me conhece um pouquinho (ou um montão), sabe que adoro plantas e Janis Joplin. 

As primeiras me carregam para um outro lugar - esteja eu onde estiver - , quando estamos naquelas trocas (adubação, podas, rega) quase que...simbióticas. As músicas da Janis... bem, estas idem.

Ontem foi dia de cuidar, com uma atenção toda especial, de uma de minhas Dracenas; entretanto a energia inesgotável dos meus filhos ( estão sempre me rodeando, estes pequenos, sempre na barra da saia, como falava minha avó), tira boa parte da concentração necessária para o ofício. Nestas horas ouvir sobre Bobby McGee, ajuda (bastante).
Os que, como eu, curtem Janis, sabem que ela era, entre muitíssimas outras coisas e poréns, intensa; e o modo como ela descreve Bobby e sua aventura amorosa junto dele, pela Luisiana e outros lugares, até a Califórnia,  traz uma sensação de transmutação (pra quem ouve com o coração, ela cantar)... De sentimentos e energias. É quase como pular de uma vida ditada e repleta de regras extremamente complicadas e desnecessárias, para uma experiência mais simples,  porém plena.

Toda vez que ouço esta canção (Me and Bobby McGee), viajo com ela e Bobby, de carona, assim meio sem destino, embalada pelo som da gaita, dentro de um denim surrado e botinas empoeiradas pela terra do Kentucky.
Claro que Bobby e Janis não tiveram filhos; mesmo naquele intenso furor. Nem Dracenas cheias de cochonilhas, imagino eu. Tiveram sim, uma química da-quelas, num amor destes meteóricos, mas que nos deslocam no tempo. Tiveram por um tempo, um ao outro.
Acho bonita a intensidade do sentimento deles, mesmo aparentando ter acontecido num caso fugaz.

...E quando a história vai terminando, estou toda interada com minha Dracena, vou voltando para os meus filhos e para o meu Bobby McGee.


P.S.: Me and Bobby McGee, foi escrita por Kris Kristofferson. Portanto Bobby nasceu como mulher. Janis foi quem, habilmente, "mudou" o sexo da moçoila.
A Canção foi destaque do álbum Pearl, lançado em 1971, 6 meses após a morte da cantora.

sábado, janeiro 8

TUDO NOVO DE NOVO?


Sexta-Feira é um dia bom. Daqueles que sopram novas energias.
Imagino que assim deva ser para a maioria dos mortais. É a aproximação do fim de semana, a ideia de descanso (se bem que... o que é descanso?) e de lazer que devem cochichar em nossos ouvidos todo o ânimo que, repentinamente, nos arrebata.

Está certo que, muitas vezes os sábados e domingos parecem mais atropelados que o restante da semana, mas mesmo assim, ainda são dias doces e super convidativos à muita diversão, e foi justamente o astral da sexta (apesar da chuvarada), que remexeu meus pensamentos, trouxe consigo esta brisa boa, fresquinha que me inspirou.
Claro que redigi o que vocês estão lendo, na companhia do Theo -  fiel parceiro -  ouvindo-o cantarolar Cabeça, Ombro, Perna e  Pés, Perna e Pés... junto com o Charlie e com a Lola, mais a Sofia perguntando se e já estava acabando. Mas acho que dei conta de concatenar todas as ideias, afinal nós mães somos especialistas ( e das melhores) no Fazer tudo ao mesmo tempo agora!

E aproveitando a inspiração para falar de 2011, tenho a ligeira impressão de que ele será mais corrido que o ano anterior (será essa a ordem natural das coisas?).
O marido vive me dizendo que essa história de Ano Novo, é mesmo daquelas Pra Boi Dormir, que a sequência de acontecimentos segue seu curso de uma forma ou de outra; Eu ouço. E penso... mas o coração é teimoso e (quase que) irremediavelmente se anima quando o marcador pula do 365 para 1, e começa tuuudo de novo; entrando numa espécie de fleuma todo particular, respirando uma atmosfera diferente, revigorante e cheia de sonhos (coisa de mulher? Não sei... mas eu gosto).
De todo modo, o que importa é a força, o otimismo e o amor que iremos colocar em nossos projetos e planos dentro desta fase, seja ela novinha em folha ou apenas continuação daquela que já vinhamos trilhando.
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